sexta-feira, 12 de julho de 2013

Manoel de Barros


A de muito que na Corruptela onde a gente vivia 
Não passava ninguém 
Nem mascate muleiro 
Nem anta batizada 
Nem cachorro de bugre. 
O dia demorava de uma lesma. 
Até uma lacraia ondeante atravessava o dia 
por primeiro do que o sol. 
E essa lacraia ainda fazia uma estação de 
recreio no circo das crianças 
a fim de pular corda. 
Lembrava a tartaruga de Creonte 
que quando chegava na outra margem do rio 
as águas já tinham até criado cabelo. 
Por isso a gente pensava sempre que o dia 
de hoje ainda era ontem. 
A gente se acostumou de enxergar antigamentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário